Penso que nasci descida numa esteira
direto na Mantiqueira.
Nos meus dias mais recolhidos,
subo a montanha
para mirar
a grandeza da Serra que chora.
Desço o morro...
com a alma encantada,
renovada.
Ali...
vi o mais belo por do Sol.
O perfume da neblina
no sobrecenho da montanha.
As águas mais cristalinas
sorrindo para os riachos,
emboladas de morro abaixo
no balé do aguaceiro,
entre as pedras e o bambual,
inspiradas no som mágico das cachoeiras.
Caminhei...
pelas trilhas escondidas
junto ao alvoroço das abelhas
e o som desconfiado dos animais,
simplesmente...
para contemplar a espiritualidade
que habita os meandros dos ares
no mais puro habitat dos seres vivos,
repleto de saberes
e pensares.
Vi...
as mais belas flores,
as mais lindas pedras,
verde de todas as cores,
múltiplos tons de azul,
de mãos dadas com a Natureza
sob a regência da sinfonia da passarada.
Rara beleza!
Vi...
a Lua enfeitando a Serra,
sorrindo,
solta como bola de algodão.
A brisa gelada fazia coro
nos entremeios da emoção,
acariciava o meu rosto,
banhava o meu coração.
Vi...
o mar de montanhas
sob a sanha
de homens e muheres
sem emoção,
cavando abismos
para a futura geração.
Vi...
o objeto não identificado
estacionado no alto espigão.
Visitas inesperadas
numa noite sem clarão.
Vi...
o lugar onde ensinei
devastado pelas lágrimas do céu,
sintomas de tromba d'água.
Vidas ceifadas,
sem dizer adeus.
Sonhos voaram,
sem deixar rastros
ou lastros.
Acenos do desequilíbrio volátil.
Vi...
o barulho do silêncio
emoldurando o cenário.
desafiador do imaginário.
E foi...
ao contemplar a magia,
explorar os sublimes sussurros da poesia
e os mistérios da Serra,
que aprendi...
sobre a pequenez e a grandeza de Ser Humano!
Foto by Zaciss
Escrevi este Texto dez dias antes da triste queimada na Serra Fina, na região da Pedra da Mina, na cidade onde moro.
Registro esta homenagem à Serra da Mantiqueira com o coração sangrando.
Zaciss