Há um ano...
eu me preparava para uma sonhada viagem.
Notícias pairavam nos ares...
um caso da doença desconhecida
pousou em São Paulo.
Ruídos de dores impactantes.
Dúvidas passeavam em mim.
Fazia ouvidos moucos para os sons
que bailavam no meu interior.
No início de março...segui!
Relatos sobre o vírus pipocavam,
flutuavam como purpurinas
entre festas bailarinas.
Na etérea estação...
o cenário perdera-se da paixão.
Fronteiras começaram fechar as portas para o Brasil.
Senti o olhar sisudo do destino.
O coração pediu o regresso.
Na passagem por São Paulo,
cheia de transtornos
e novos protocolos,
o peso do silêncio.
A paisagem cabisbaixa...
não esboçava sorrisos.
Desembarcar em casa ...
era preciso!
O meu refúgio me aguardava.
Ao chegar...
sorri para o riso colorido do meu canto.
Acenei para a sinfonia dos passarinhos.
Acolhi o abraço,
cheio de laços,
dos cachorrinhos.
A bicharada intuia...
um novo tempo chegaria:
a união dos afetos,
novas formas de aprender,
de interagir, de viver...
Um ano escondida,
encolhida dentro de mim,
fugiu à compreensão.
O extermínio foi se apoderando dos cenários..
mais de duzentas e cinquenta mil vidas ceifadas.
A estatística das lágrimas que rolam do céu!
Inserida nesse amanhecer...
olho os meus pertences.
Sinto a nova vivência.
Olho o saldo do nada,
do quase nada.
A vida é um fio.
Um tênue fio.
Um fio que leva ao nada.
O nada que não precisa de nada!...
foto by Zaciss
zaciss
Enviado por zaciss em 26/02/2021