Com o passar dos anos...
a gente vai se conhecendo e
encontrando subterfúgios para
os lamentos.
Muito cedo... a hipertensão me pegou e não mais me abandonou.
As metas, prazos e horários me perseguem até hoje. A aposentadoria não me libertou dos planos e planejamentos... assombram!
Nos meados da minha vivência aprendi a lida com a pressão do meu interior. Quando me sentia sufocada... minha alma olhava para o fogão. O fogão a gás... onde os regalos para a criançada brotavam... bolos, pudins, guloseimas mais elaboradas.
Logo...
o meu corpo se harmonizava, se aquietava... e a vida sorria em meio à alegria dos meus amores.
Hoje... minha prole longe está.
Quando as minhas emoções desalinham o pensamento, visito o fogão à lenha. Lento, inquieto, manhoso, confidente... ouve as minhas queixas, discute os meus lamentos e as labaredas sorridentes derramam cores sobre a minha sozinhez.
Enquanto a dialógica presença da cozinheira se enternece junto ao fogão ... o coração amolece e a calma se estabelece.
Foto by Zaciss