ZAZIE, A CACHORRINHA
A Zazie era a cachorrinha da minha filha, mas Dani morava em um apartamento em São Paulo.
Ao me mudar para o casarão da Escola Agrícola, casa destinada a moradia do diretor da escola, resolvemos que Zazie iria
comigo para a fazenda.
Casa ampla, seiscentos metros quadrados, oito metros de pé direito, passou por uma breve reforma para receber a nova diretora.
Viver numa linda casa, embora com pouquiíssima mobília, tornara-se muito interessante e intrigante. Foi ali ... que senti a caminhada sob os rigores das poucas necessidades e os fantasmas do lendário recanto.
A proximidade com o presídio era assustadora. Muitas janelas, mas fechadas a sete chaves. Se houvesse uma fuga... era preciso atenção diuturna.
Quinhentos metros e uma pequena densa mata separava o casarão da Penitenciária II.
A linda casa, construída em 1945, estilo neocolonial, seria o sonho de consumo de qualquer mulher romântica... a bela suite, com direito a closet, banheira no recatado salão de banho, mas localizada bem junto ao vento que levava a conversa dos presos até o silêncio da noite naquele quarto arrebatador. Um longo corredor dava acesso a esse aposento habitado pelos meus sonhos, medos, receios, diálogos com a sozinhez, embalados pelo despertar da poesia.
Vivência paradoxal!
Seguia os meus dias sob o desafio de um trabalho complexo: a Escola Agrícola, a Fazenda e o Hotel , alojamento para os cento e vinte e seis alunos de outras cidades .que precisavam morar na escola. O resgate da Instituição Educacional era preciso!
Zazie, a cachorrinha da minha filha, era a rainha da casa. Uma poodle, companheira, com a idade um pouco avançada. Enquanto eu trabalhava, Zazie ficava em casa usufruindo as delícias de um soberbo espaço, sem a consciência do perigo que vivia bem junto de nós.
Um dia, depois de um longo e exaustivo trabalho, cheguei ao casarão e me encaminhei para o corredor que dava acesso ao meu quarto. Coloquei a chave na porta e vi o vulto branquinho correndo na minha direção... muito rápido... e entrar no quarto ao abrir a porta.
Dentro do quarto... não vi a Zazie e a chamei. Pensei... se escondera! Ao ouvir o meu chamado... Zazie apontou no início do corredor, em frente a sala principal... parecia sorrir e dizer... "mas não entrei no seu quarto!..."
foto by Zaciss