Depois de uma longa viagem, cheguei à cidade onde morava pro tempore ... a cidade que me acolhia e recebia o meu trabalho.
Vivia sozinha, a família... cada um no seu canto e eu seguia a minha Missão.
Quando visitava a Nossa Casa, em Lavrinhas, ficava degustando cada momento até o último instante.
Nesse dia, cheguei ao cenário deste conto ... bem depois da meia noite. Feriado prolongado, estradas
lotadas e os ônibus seguindo a vagareza da emoção.
Ao descer na rodoviária, procurei um taxi ... e nada! Nem uma viva alma conhecida que pudesse me ajudar.
Fiquei constrangida ao procurar ajuda com os amigos. Era noite avançada... o outro dia, dia de trabalho, segunda - feira
pesada.
Portava a minha mala, noite muito fria, calçava botas com cano alto. Resolvi seguir caminhando sozinha para a minha casa, distante oito quilômetros da rodoviária. Embora fosse período urbano, muito urbano... não existia uma pessoa nas ruas. O silêncio dava o tom à caminhada. Minhas botas marcavam o compasso.
Andei, andei...puxando a minha mala... e na subida da Avenida principal que dava acesso a casa onde residia, parou ao meu lado um carro preto. O cidadão abriu a porta do carona ... e disse: entre!... Respondi: não vou entrar. Segui andando... o carro me seguindo e o imperativo seguindo junto, até que o infeliz desistiu e seguiu o seu rumo.
Continuei andando... com medo de novos incidentes, quando senti um alívio... muito à frente seguia um homem empurrando uma bicicleta, subida exigia aquele esforço. Comecei a andar bem depressa, muito depressa, tentando alcançar a pessoa.
Até que precisei correr... e corria... quando percebi a proximidade gritei ...Moço, me ajude! Ele parou, me esperou , me acompanhou. Fomos conversando, moço novo, devereria ter a idade de um dos meus filhos. Não contei a ele os meus medos anteriores na subida daquela rua, mas ele começou a contar a sua história, Residia bem pouco tempo na cidade, com a mãe e a irmã. Foi abrigado pela família naquela cidade porque teve alta do hospital pisiquiátrico num tempo recente.
Fiquei gelada, minha perna paralisou, devo ter ficado sem cor, mas segui em frente. O moço me acompanhou até a minha casa... e me senti muito grata.
Quis gratificá-lo, mas não aceitou!
Sem eira...nem beira...a chave rolou na fechadura às duas horas da manhã!
E o meu salvador... sumiu na noite escura, sem cor, sem pudor!
Foto by Zaciss