Lecionava na Escola mais distante do Município de Lavrinhas, a Escola Rural do Rio do Veado, já bem no alto da Serra da Mantiqueira, no antigo caminho ou descaminho do ouro, que levava à vizinha Minas Gerais, nos idos do ciclo do ouro.
São mais de vinte qulômetros distantes da Nossa Casa. Ia de carro, um fusca bem usado, mas que enfrentaria
os rigores da estrada a partir de Pinheiros, o Distrito de Lavrinhas.
Chuva ou sol ... o caminho seria percorrido até à Escola, situada no alto da montanha. Se chovesse muito, é certo que o carro ficaria no pé do morro e o final do trajeto seguiria a pé.
Trinta alunos distribuidos nas três primeiras séries do antigo primário.
No intervalo, a merenda servida pela dona Ana, sempre acompanhada de um cafezinho, bolão, mandioca cozida, milho verde... feitos com muito esmero e amor, sob a batuta da senhora merendeira.
A sala de aula muito confortável, amplas janelas, assoalho, carteiras de madeira maciça, compunham o belo cenário daquela Escola, cujo prédio fazia parte da sede da Fazenda.
Num belo dia, manhã chuvosa, segui para a minha jornada. Até Pinheiros tudo correu muito bem. Dirigia pela estrada de terra, sem qualquer recapeamento, me esgueirando pelo barro, pelos tijucos lamacentos. De repente, senti alguma coisa diferente, o carro se recusava prosseguir... parei! Desci... na estrada deserta, sem lenço nem documento, sem alma a quem gritar... a roda do carro saiu e se embrenhou barro a dentro. E naquele atoleiro, parte do carro afundou no pântano ...
O que poderia me restar naquela insólita situação? Sentar à beira do caminho, debaixo do aguaceiro, pedir a Deus socorro, mesmo que fosse um carro de boi que pudesse me retirar daquele lugar.
Não existia celular e mesmo se existisse... sinal não chegaria ali.
Por volta do meio dia apareceu a ajuda do caminhão leiteiro, que teimava desafiar o atoleiro.
Sem aula...
sem professora,
os meus aluninhos
sozinhos,
seguiram para os seus ninhos
distribuídos na Mantiqueira.
foto by Zaciss