Ao chegar naquele recanto inóspito com a missão de recuperar uma Instituição Escolar fadada à falência, deparei-me com o inusitado.
A Escola implantada com todas as honras e pompas pelo governador do Estado de São Paulo, Fernando de Souza Costa, 1945, destinou um belo espaço para a Imagem de Nossa Senhora da Conceição. Ao lado da Santa, o Crucifixo. Mais tarde, alguém, não se sabe quem, acrescentou a imagem de São Miguel Arcanjo.
Dias depois da minha chegada, uma das funcionárias me procurou para investigar sobre as minhas crenças. Contou-me
que a gestão anterior solicitara a ela, num dado momento da sua governança , que jogasse fora aquelas imagens. Tratava-se de um senhor ateu e não considerou a tradição e a história do lugar. A moça ... tocada pela emoção, tocada pela tarefa ousada , resolveu guardar o patrimônio espiritual sob a sua guarda, na sua casa. Prometera ao Santos ... que se um dia a Escola tivesse um novo gestor, consideraria a possibilidade de retorno das Imagens aos seus lugares.
Meses depois da minha posse, foi definido o dia do retorno dos Santos com uma procissão saindo do abrigo temporário até a Escola. Tudo pronto e organizado, à noite segui para o meu quarto mais cedo para sentir-me mais disposta para o evento do dia seguinte. Era um aposento provisório, com um pequeno banheiro e o quarto bem grande, uns sessenta metros quadrados, com piso frio.
Por volta das vinte e três horas acordei... acordei com muita fome. Não tenho o costume de me alimentar à noite.
Estranhei, mas cedi às minhas necessidades. Fui até o outro canto do quarto onde ficava a mesa com frutas. Peguei uma maçã para lavar, quando no meio do quarto cai!... cai de cara no chão. Cai como uma chapa... esparramada! Passei as mãos no rosto... senti o sangue descendo. Estava toda machucada. Parecia o empurrão pelas mãos de um gigante enfurecido.
Chorei muito e fui dormir desolada, sem poder pedir ajuda a quem quer que fosse.
No dia seguinte, decidi que viajaria para Lavrinhas. Precisava das mãos do meu dentista. Um dos dentes frontais entrou na gengiva. Meu rosto estava deformado, joelhos e mãos todos machucados. Parecia ter levado uma grande surra.
Comuniquei à funcionária sobre a minha decisão e decidimos que a procissão seria realizada sem a minha presença.
Pronta para a viagem, numa manhã gelada, enrolada num xale para esconder os ferimentos, cheguei à varanda da Escola para esperar o motorista. Naquele instante veio ao meu pensamento a necessidade da construção de uma capela para abrigar definitivamente os santos. Nesse momento, a minha mão esquerda se levantou, num gesto espontâneo, indicando o local onde deveria ser construída a pequena igreja.
Entendi o Recado dos Céus!
Curada dos meus ferimentos, voltei à lida com o propósito que me fora dado naquela manhã fria de julho de 2005.
O lugar escohido ... tratava-se de uma cunicultura demolida, parte pela ação do tempo, parte pelo descaso com a coisa pública.
Projeto feito. Projeto em ação. A Prefeitura limpou o espaço... foram cinquenta e oito caminhões basculantes de entulhos retirados daquele local. A Empreiteira que reformava parte da Escola incumbiu-se da mão de obra e outros parceiros cuidaram do material.
O prédio foi construido em quatro longos anos... toda vez que a obra era retomada eu caia doente, com forte crise respiratória, chegando a quarenta graus de febre. Parava a obra... sarada eu estava. E de ciclo em ciclo... a batalha continuava.
Ao final, conseguimos inaugurar a Capela com a intronização solene das imagens de Nossa Senhora da Conceição, Jesus Cristo e São Miguel Arcanjo.
Missão cumprida!...