PROSA ENTRE AMIGAS
Estudamos juntas por muitos e longos anos.
Minha amiga...a moça mais bonita da classe... morena, descendente de indígenas, cabelos lisos e negros. Quando o vento se alinhava, seus cabelos esvoaçavam como seda pelos ares da antiga Escola. Estudiosa! Sempre as maiores notas. Roupas impecáveis! Por fim... a menina mais elegante e admirada naquela Escola.
Estudávamos no Instituto de Educação da cidade, onde os alunos das famílias mais conceituadas se formavam. Dali saíram profissionais renomados, políticos, professores brilhantes.
Com o diploma nas mãos, os caminhos foram diversificados. Ela, minha amiga, além do magistério dedicou-se às Artes Plásticas. Casou, três filhos, enviuvou e recolheu-se na propriedade herança da família.
Por estes dias, ela me ligou, muito triste, quase chorando, para me dizer que o dignóstico médico não lhe deu boas notícias.
Afirmou...
_ "Amiga, estou morrendo. O que faço?"
O que dizer a alguém diante dessa afirmativa?
Pensei... e disse...
_ Estamos morrendo. A cada dia que anoitece... um dia a menos!
O que fazer?
Meus Deus, o que dizer?
Ah... não foi ironia, mas falei com o meu coração...
_ Querida, dance, cante, coma comidas que goste, vista-se lindamente, namore,
apaixone-se, ria, escreva, pinte, decore o seu canto com flores coloridas...
E a prosa seguiu esse tom! Ao final... rimos tanto... tanto...
Decerto... a morte, se ouviu, entrou no embalo daquela alegria e cortou volta para
repensar outros caminhos.