Moro na cidadezinha de uma rua só.
Olho pra lá e pra cá... árvores, flores, cantarolar da passarada.
O trem se anuncia... chega à ponte sobre o Rio Paraíba do Sul,
bate o sino, apita e apita.
Cresci nessa rua, ao lado da Escola primária, que exibe o patronato Coronel Horta, fundador da cidade.
A Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora , símbolo da fé do povo lavrinhense, é a Capela do Colégio São Manoel, Salesiano,o centro de difusão do conhecimento, dos ecos da cultura.
Na nossa casa, cheia de irmãos, a escadinha ...de dois em dois anos
nascia um bebê. Crescemos ouvindo o ensaio da banda do Colégio,
o sino badalando de hora em hora, concorrendo com o trem sineiro.
Meninas com poucos acessos ao Colégio dos padres. Tratava-se de um seminário
e o pecado rondava os quereres.
Histórias davam o tom aos ecos dos anseios e temores.
Tão lindo o cenário da Instituição...horta, pomares, jardins, a mata, o lago...
As mangueiras reinavam soberanas... lindas, deliciosas e silenciosas.
O desejo da criançada sugeria a subida da exuberante mata, conhecer o seu interior,
descobrir os seus mistérios.
Na cidade, a voz corrente ... a mata era habitada pelo corpo seco. Um personagem que teria desobedecido
à mãe tornou-se uma alma penada, que nem a terra quis receber o seu corpo. Vagante... foi morar
na mata do Colégio!
Até hoje... olho para a mata, bem à frente da varanda da Nossa Casa, procuro o corpo seco, o personagem
da minha infante fantasia... sem poesia!