LAMENTO DAS VELHAS ÁGUAS
A cidade de uma rua só carecia de lazeres para as proezas da meninada.
Alguns fugiam da escola para os banhos no Rio Jacu, garboso afluente do Rio Paraíba do Sul.
O banho naquelas águas sagradas fazia parte do rito da entrada na fase das coragens.
Aprender nadar nas águas do Rio Paraíba, escondido dos pais, significava ato de bravura.
Os meninos moradores na Turma 23, vila para os ferroviários, atravessavam o rio a nado, desafiando corredeiras e a profundeza das velhas águas.
Quase junto a Via Dutra está o Rio das Velhas, também, afluente do Rio Paraíba, desemboca na sinuosidade das águas, onde o vento faz a curva. Sonho da criançada, subir o morro bem junto a nascente, deslizar pela densa mata ciliar, rolar pelas pedras, sorrir para volumosa cachoeira...
Nos finais de semana os pais acompanhavam os filhos para os piqueniques naquelas lonjuras dos matos acima do morro, onde a Natureza presenteava humanos com as belezas do capital natural. Pão e mortadela, guaraná, farofa de frango... não podiam faltar. Até o radinho de pilha acompanhava a família na aventura da subida das pedras, ora firmes, ora escorregadias.
Avencas e samambaias, azedinhas e embaubas, ingazeiros e bambuzeiros ladeavam o morro sem fim. A felicidade mandava o seu recado... desfrute e cuide dos bens do Planeta. Patrimônio de todos. Legado para a humanidade.
O tempo passou... a boiada tomou conta da cabeceira. Chuvas criadeiras rarearam. Queimadas invadiram o cenário.
A ação humana desfez a riqueza do ecossistema.
A meninada não sorri para o Rio das Velhas, com as velhas águas reduzidas a quase nada.
Um fiozinho d'agua desce choroso, puro lamento sobre as veredas do passado.
A vida fenece!